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| Revisada em 15 novembro 2000 | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Coleoptera (Insecta) e Macrochelidae (Acarina) associados a fezes de gado bovino no Estado de Goiás: constância, dominância e freqüência mensal |
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O estudo sobre os Coleoptera e Acarina associados com fezes bovinas teve como objetivo fazer um levantamento qualitativo e quantitativo das espécies de Coleoptera Histeridae, Scarabaeidae, Staphylinidae e Acarina e verificar a freqüência mensal, a constância e a dominância desses grupos em massas fecais bovinas em Goiás. Vinte placas fecais bovinas foram coletadas aleatoriamente, a cada mês, com oito dias de idade, colocadas em recipientes plásticos e levadas ao laboratório. Os artrópodes foram extraídos usando o funil de Berlese’s. As espécies mais freqüentes entre os Coleoptera e Acarina foram: Histeridae sp. (Coleoptera: Histeridae), Ataenius aequalis Harold (Coleoptera: Scarabaeidae), Oxytelus spp. (Coleoptera: Staphylinidae) e Glyptholaspis confusa Foa (Acarina: Macrochelidae). A maioria das espécies coletadas foi constante e não dominante e predominou no período quente e úmido. Palavras-chave: Insecta, Coleoptera, Acarina, Goiás, fezes bovinas. Coleoptera (Insecta) and Macrochelidae (Acarina) associated with bovine dung in State of Goiás: constancy, dominancy and monthly frequency. The study of the Coleoptera and Acarina associated with cattle dung pats had the objective of making a qualitative and quantitative survey of the species of Coleoptera, Histeridae, Scarabaeidae, Staphylinidae and Acarina and verify the monthly frequency, the constancy and the dominancy of these groups in cattle dung in Goiás. Twenty samples of bovine dung were taken at random, each month, from pats eight days old, placed in plastic containers and taken to the laboratory. Arthropods were extracted using Berlese’s funnel. The most frequent species among the Coleoptera and Acarina were: Histeridae sp. (Coleoptera), Ataenius aequalis Harold (Coleoptera: Scarabaeidae), Oxytelus spp. (Coleoptera: Staphylinidae) and Glyptholaspis confusa Foa (Acarina: Macrochelidae). Most of the collected species were constant and not dominant according to constancy and dominancy and prevailed during warm and humid weather. Key words: Insecta, Coleoptera, Acarina, Goiás, cattle dung. Introdução Fezes bovinas constituem um microhabitat para uma abundante e diversificada fauna de artrópodes (Blume, 1985). A fauna que se desenvolve no esterco, envolve diferentes grupos tais como, Diptera, Coleoptera, Hymenoptera e Acarina (Blume, 1985; Cervenka & Moon, 1991). Essas massas fecais constituem-se em fonte de abrigo e desenvolvimento para uma série de artrópodes, além de nematóides (Flechtmann et al., 1995). Determinados insetos podem causar problemas ao se desenvolverem no esterco bovino, propiciando a veiculação de doenças ou causando danos nas criações como alguns dípteros hematófagos, pelo estresse que causam aos animais ao exercerem a hematofagia como a Haematobia irritans (L.), atualmente considerada como praga no ambiente rural (Amaral, 1996). O conhecimento da fauna fimícola é necessário, objetivando-se reduzir populações de dípteros e nematóides de importância veterinária (Flechtmann et al., 1995). O trabalho teve como objetivo fazer um levantamento qualitativo e quantitativo das espécies de Coleoptera das famílias Histeridae, Scarabaeidae, Staphylinidae e Acarina da família Macrochelidae e verificar a freqüência mensal, a constância e a dominância desses grupos em massas fecais bovinas em Goiás. O experimento foi realizado na Fazenda da Faculdade de Agronomia, situada próximo as margens do rio Paranaíba. Distando 5 quilômetros do centro de Itumbiara, GO. A fazenda possui uma área de aproximadamente 12 alqueires, com um plantel de 45 cabeças de gado bovino leiteiro. As fezes coletadas pertenciam a bovinos resultantes do cruzamento de holandeses com nelore. As fezes foram expostas onde as pastagens são formadas por Brachiaria brizantha (Hochst ex. A. Rich). Fezes frescas foram marcadas imediatamente após sua emissão nas pastagens com auxílio de estacas de madeiras brancas (30 cm de altura e 5 cm de espessura), para a determinação precisa de suas idades. As fezes permaneceram no campo por 8 dias e posteriormente foram coletadas e levadas para o laboratório do Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara, GO. Para a obtenção de coleópteros e ácaros, 5 placas de fezes de 8 dias foram coletadas nas pastagens e levadas ao laboratório. Essas 5 placas foram colocadas em "funil de Berlese" contendo frascos coletores com álcool 70%, por aproximadamente 5 dias. Os adultos obtidos por esse processo foram contados e identificados. Estes experimentos foram realizados mensalmente, de janeiro a dezembro de 1998. Para controle de ectoparasitas foram utilizados também piretroídes (pulverização) (TriatoxR- princípio ativo: amitraz - emulsificantes - surfactantes - Coopers) de 30 em 30 dias e para helmintos, Ivermectina de 6 em 6 meses. Os Scarabaeidae foram identificados por Fernando Z. Vaz-de-Melo, da Universidade Federal de Viçosa, MG. Os Histeridae foram identificados por Sérgio L. Gianizela, da Universidade Estadual de Campinas, SP. Os Staphylinidae por Dr. Júlio Mendes, da Universidade Federal de Uberlândia, MG. A constância das espécies foi determinada pela fórmula de Bodenheimer (1938):
onde: P= número de coletas contendo a espécie (total de amostras mensais) e N = número total de coletas realizadas (12 coletas realizadas). De acordo com os percentuais obtidos, as espécies foram separadas nas seguintes categorias: espécies constantes (X) - presentes em mais de 50% das coletas; espécies acessórias (Y) - presentes em 25% a 50% das coletas e espécies acidentais (Z) - presentes em menos de 25% das coletas. A dominância foi calculada pela fórmula de Kato et al. apud Laroca & Mielke (1975):
onde: n1 = 2(K + 1) e n2 = 2(N - K + 1)
onde: n1 = 2(N - K + 1); n2 = 2(K + 1); N= número total de indivíduos capturados; K= número de indivíduos de uma dada espécie; Fo= valor obtido na da tabela de distribuição de F, para 5% de probalidade (F>1), nos graus de liberdade de n1 e n2. Foram consideradas dominantes as espécies que apresentaram LI maior que o LS para K=0. Foram coletados 11.114 espécimens de Coleoptera e 485 de Acarina em 240 massa fecais (Tabela 1). Entre os Coleoptera a família mais abundante foi Staphylinidae com 44,7%. A espécie mais abundante entre os coleoptera foi Ataenius aequalis Harold (Scarabaeidae) com 35,9%. Esta juntamente com Oxytelus sp. (Staphylinidae) devem ser as mais adaptadas em áreas de pastagens em Itumbiara, GO. Os Coleoptera da família Scarabaeidae, em sua quase totalidade, são coprófagos habitantes de excrementos de onde retiram alimento para larvas e adultos e são considerados importantes para o controle biológico das moscas que se reproduzem no esterco bovino (Flechtmann, 1995). Para Alves & Nakano (1989) as espécies de Aphodius, Ataenius e Dicotomius anaglypticus Mannerheim (Scarabaeidae) podem ser os mais importantes aeradores, enterradores e formadores de túneis nas fezes bovinas, tornando-as fácil para a colonização por predadores e parasitas (Rodrigues, 1989). Onthophagus gazella Fabricius tem sido utilizado em programas de controle biológico da mosca dos chifres. Eles tem contribuído no combate às infecções grastrointestinais dos animais domésticos e melhorando a qualidade do solo (Hoebeke & Beucke, 1997). A maioria dos Staphylinidae coletados pertencem a espécie Oxytelus sp. com 35%. Essa espécie é considerada coprófaga (Hanski, 1987) (Tabela 1). As espécies Heterothops spp. e Philonthus spp. são consideradas como predadoras de ovos e larvas. FAY et al. (1990) têm demonstrado que algumas espécies de Philonthus são capazes de predar ovos e larvas de Haematobia em fezes bovinas na África. Aleochara notula Erichson na fase larval comportam-se como parasitóides solitários de pupas de dípteros Cyclorrapha, e na fase adulta como predadores de ovos e larvas destes dípteros. A. notula são considerados os mais eficientes predadores da Haematobia irritans (Hu & Frank, 1995). Guimarães & Mendes (1998) acreditam que os Staphylinidae são os mais importantes controladores naturais de dípteras que desenvolvem-se em fezes bovinas no Brasil. Os Histeridae foram representados por 11,3% do coleópteros coletados, sendo a família menos abundante. Histeridae sp.1 foi a espécie mais freqüente com 4,42% (Tabela 1). Espécies do gênero Hister e Phelister são citadas como predadoras de ovos e larvas de dípteros inclusive de Haematobia, em fezes bovinas. Em levantamento de coleópteros (Histeridae) realizado em criação de aves poedeiras em Monte-Mor, SP, foram coletadas também as espécies: Hister dubius Mars, Phelister sp. e Acritus sp. (Gianizella & Prado, 1998). Segundo esses autores os Histeridae destacam-se por serem predadores de larvas de primeiro e segundo estágios de dípteros sinantrópicos. Glyptholaspis confusa Foa parece ser o macroquelídeo mais importante nas fezes bovinas em Itumbiara (Tabela 1), sua freqüência foi de 66%. Nossos resultados foram diferentes aos encontrados por Mendes (1996) na região de São Carlos onde o macroquelídeo mais abundante foi Macrochelidade glaber sp.2. Mattos (1992) verificou que em fezes de galinha poedeiras em Monte-Mor, SP, a espécie mais freqüente foi Macrocheles muscaedomesticae Scopoli. A espécie (G. confusa) é encontrada no Novo Mundo em fezes, resíduos de trigo e associados com moscas sinantrópicas (Hyatt & Emberson, 1988). Esta espécie deve ser incluída entre as possíveis a serem estudadas no controle da mosca-dos-chifres. Os Macrochelidae são amplamente distribuídos em todo mundo, alimentando-se de ovos e de larvas de moscas. Na Austrália, os Macrocheles spp. presentes em fezes bovinas são relatados causando alta taxa de mortalidade em Haematobia irritans exigua DeMeijere (Fay et al., 1990).
As variações termo-pluviométricas em Itumbiara, observadas de janeiro a dezembro de 1998, apresentaram dois períodos: um quente e úmido de outubro a março e outro frio e seco de abril a setembro (Fig. 1). Os Scarabaeidae: Ataenius aqualis, Aphodius pseudolividus Balth. e Onthophagus gazella apresentaram picos populacionais nos meses de janeiro e novembro, junho e julho e janeiro e novembro, respectivamente (Fig. 2). Os Histeridae: Acritus sp., Histeridae sp.1 e Phelister sp. apresentaram seus picos respectivamente, nos meses de abril e maio, abril e julho e março e abril (Fig. 3). Os Staphylinidae: Heterothops sp. apresentou picos populacionais nos meses de julho e setembro, Oxytelus sp. apresentou picos nos meses de março e abril e Philonthus sp. em julho e novembro (Fig. 4). Os Acarina: G. confusa apresentou picos em outubro e novembro, Macrocheles glaber Müller em fevereiro e novembro e Macrocheles muscaedomesticae Scopoli em agosto e novembro (Fig. 5). De maneira geral, independente do grupo, as espécies apresentaram maior abundância no período quente e úmido. Pelas Figuras 2, 3, 4 e 5 pode-se notar que as populações de artrópodes foram encontrados basicamente, em todos meses do ano. Com relação ao índice faunístico constância observou-se que 41,5% apresentaram-se constantes, 34,5% acessórios e 24,1% acidentais (Tabela 2). Portanto, a maioria das espécies de coleópteros e ácaros apresenta-se constante. Para o índice dominância, nenhuma das espécies mostram-se dominantes.
Em Itumbiara, GO, encontra-se uma rica comunidade de Coleoptera e Acarina associados a fezes bovinas relacionada não somente à oferta de fezes, mas também, porque esses artrópodes são predadores de estágios imaturos de moscas, que ali ocorrem em grande abundância. Por serem controladores naturais de moscas são importantes na determinação do tamanho populacional de muscóides. Portanto, podem ser utilizados em futuros programas de controle biológico.
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